Seu Orlando e a esquina

Seu Orlando e a esquina

Seu Orlando Ferreira, de 74 anos, costuma se sentar pela manhã no tronco cortado de uma árvore bem na esquina da rua 1822 com a rua Lima e Silva. Fica diante da tradicional Lanchonete Dias.

Toma um café, às vezes troca um dedo de prosa, às vezes não troca nenhum. Só fica mesmo ali, olhando a vida passar a partir daquele ponto.

Seu Orlando conta que trabalhou durante muitos anos em metalúrgicas da região, como a Vila Carioca, e foi se aposentar como porteiro de prédio.

Apresenta escoriações pelo corpo, coitado, ferimentos no rosto, nas mãos, no joelho que entremostra arribando a calça escura, em decorrência do tombo que levou dias atrás. A vida é mesmo perigosa, já dizia o Riobaldo do “Grande Sertão: Veredas”.

Mas olha quem veio visitá-lo agora?! Não acredito! O Amarelo, esse bom vira-lata cujo tutor assoma aqui do lado, na mesma esquina. Gostoso pelinho crespo e desgrenhado, o desse bom cão.

É visto com frequência na fila da carne do Tennessee da Silva Bueno, vai que algum cliente generoso vai com o focinho dele… Amarelo repousa seu focinho agora sobre o colo do Seu Orlando e ganha um bom afago.

Seu Orlando é morador antigo da 1822, aponta para o lado de lá, onde já morou, e para o lado de cá, onde mora.

Entre as amendoeiras da 1822, a gente simples e trabalhadora dali vai se descortinando dia após dia, sem pressa. Gente séria, às vezes de poucas palavras, mas eloquente de outra maneira, à sua maneira.